Terras Indígenas e o agro: como 23% da Amazônia sustenta 80% da produção agrícola brasileira?

Um novo estudo mostra que 80% da agricultura brasileira depende das chuvas geradas pelas florestas em terras indígenas da Amazônia. Entenda como essas áreas, embora representem apenas 23% da região, têm um papel vital na sustentabilidade climática e econômica do país

AGRO EM FOCO

5/28/20253 min read

reflection on trees on clear body of water during sunset
reflection on trees on clear body of water during sunset

A Floresta que Irriga o Brasil

A Amazônia é conhecida como o "pulmão do mundo", mas poderia também ser chamada de "coração das chuvas brasileiras". A umidade liberada por suas árvores abastece rios aéreos que se deslocam por milhares de quilômetros, irrigando as regiões mais produtivas do agronegócio. Um estudo recente, realizado por cientistas de instituições brasileiras e internacionais, revela que essa umidade depende fortemente das florestas preservadas nas terras indígenas da região.

A descoberta vem em um momento crucial, quando o Brasil debate o futuro de suas áreas protegidas. A conclusão é clara: não é possível separar sustentabilidade ambiental de sustentabilidade econômica.

Mapa das terras indígenas na Amazônia Legal
Mapa das terras indígenas na Amazônia Legal

Terras indígenas na Amazônia desempenham papel crucial na proteção da floresta e na regulação climática. Fonte: NASA Earth Observatory

A Potência Climática das Terras Indígenas

As terras indígenas ocupam cerca de 115,8 milhões de hectares da Amazônia Legal — aproximadamente 23% da região. Apesar disso, elas respondem por uma parte desproporcional da produção de umidade que alimenta os sistemas de chuva em todo o país. Isso ocorre porque essas áreas são, em grande parte, bem preservadas. Segundo o MapBiomas, mais de 90% da cobertura vegetal original dessas terras permanece intacta.

Essa floresta ativa funciona como uma "usina" de umidade, com árvores que liberam vapor d'água através da transpiração. Essa é a base dos chamados "rios voadores" — massas de ar que transportam umidade para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil.

Vista aérea da floresta amazônica
Vista aérea da floresta amazônica

A densa cobertura vegetal da Amazônia é essencial para a formação dos 'rios voadores' que irrigam o Brasil

O Agro e Sua Dependência Invisível

De acordo com o estudo citado pela revista piauí, as chuvas originadas em terras indígenas irrigam cerca de 80% das terras agrícolas brasileiras. Isso inclui produções estratégicas como soja, milho, café e cana-de-açúcar. Em termos financeiros, esse "clima exportado" representa 57% da renda gerada pelo setor, o que equivale a mais de R$ 330 bilhões.

No entanto, essa dependência nem sempre é percebida pelos agentes do setor. Em muitas discussões sobre produtividade, mecanização e financiamento, o papel ecológico da Amazônia é negligenciado. O estudo oferece uma nova perspectiva: a proteção das terras indígenas é um investimento direto na estabilidade do agro.

Máquinas agrícolas realizando a colheita da soja
Máquinas agrícolas realizando a colheita da soja

Culturas como a soja dependem das chuvas geradas pela umidade da floresta amazônica

E as Terras Devolutas?

Por outro lado, as terras devolutas — que representam cerca de 30% da Amazônia Legal — têm baixa efetividade climática. São as mais afetadas por grilagem, queimadas e desmatamento. Em vez de produzirem umidade, essas áreas degradadas têm contribuído para o aumento das emissões de carbono e a redução das chuvas.

Enquanto as terras indígenas mantêm o funcionamento do sistema de chuvas, as devolutas, sem gestão e regulação, acabam sendo um passivo ambiental e econômico. A regularização fundiária e o reflorestamento dessas áreas são caminhos urgentes.

Área desmatada na floresta amazônica
Área desmatada na floresta amazônica

O desmatamento ameaça o equilíbrio climático e a sustentabilidade do agronegócio

O Futuro do Agro Passa pelas Florestas Preservadas

O estudo revela um fato inegável: a segurança hídrica e climática do Brasil depende diretamente das terras indígenas da Amazônia. Mais do que uma pauta ambiental, proteger essas áreas é essencial para a estabilidade do agronegócio, a produtividade das lavouras e a economia nacional.

É urgente enxergar a floresta como infraestrutura essencial. Um hectare preservado não é um obstáculo ao progresso, mas um ativo valioso para o futuro do país. E, se o agro é tech, é pop e é tudo, precisa ser, também, florestal.