Robô da Embrapa detecta nematoides em soja e algodão com mais de 80% de precisão

Pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP) desenvolveram o LumiBot, um robô autônomo que identifica nematoides em plantas de soja e algodão antes dos sintomas. A tecnologia fotônica utiliza luz e inteligência artificial para reduzir o uso de químicos e impulsionar a agricultura de precisão no Brasil

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field of cotton trees
field of cotton trees

A Embrapa Instrumentação (SP) desenvolveu, em parceria com a Cooperativa Mista de Desenvolvimento do Agronegócio (Comdeagro), o LumiBot — um sistema robótico autônomo capaz de identificar nematoides em plantas de algodão e soja antes do aparecimento dos sintomas visuais.
O equipamento, que opera à noite, utiliza luz ultravioleta-visível para analisar a fluorescência das folhas, permitindo o diagnóstico precoce e preciso de doenças.

Impacto econômico e ameaça dos nematoides

A cotonicultura e a sojicultura são duas das culturas mais importantes para o Brasil, com previsão recorde para a safra 2025/26: 4,09 milhões de toneladas de pluma de algodão e 177,67 milhões de toneladas de soja, segundo a Conab.
Porém, ambas sofrem com a ameaça dos nematoides, vermes microscópicos que atacam as raízes e comprometem a absorção de água e nutrientes.
As perdas podem ultrapassar R$ 4 bilhões anuais no algodão e R$ 27,7 bilhões na soja, segundo estudos da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN), Syngenta e Agroconsult.

Taxas de acerto e avanço tecnológico

Mesmo em fase de protótipo, o LumiBot já atingiu taxas de acerto acima de 80% em experimentos realizados em casa de vegetação, com cerca de 7 mil imagens coletadas em três anos de pesquisa.
A tecnologia diferencia doenças causadas por nematoides de estresses como falta de água, utilizando a técnica fotônica de Imagem de Fluorescência Induzida por LED (LIFI) — método não destrutivo que analisa processos fisiológicos das plantas em poucos segundos.

O robô se desloca por trilhos entre as fileiras de plantas, iluminando as folhas e registrando imagens em ambiente escuro, o que garante precisão na captura dos sinais de fluorescência. Os dados são processados por algoritmos de aprendizado de máquina, capazes de reconhecer padrões e associá-los a doenças específicas.

Próximos passos e aplicações

A próxima etapa do projeto prevê a adaptação do sistema para uso em campo, possivelmente acoplado a veículos agrícolas como pulverizadores ou rovers.
O robô será apresentado no Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária (Siagro), de 14 a 16 de outubro, em São Carlos (SP).

Menos químicos e mais precisão

Segundo a pesquisadora Débora Milori, coordenadora do projeto e líder do Laboratório Nacional de Agrofotônica (Lanaf), o diagnóstico precoce pode reduzir o uso de nematicidas — produtos caros e com potencial impacto ambiental —, permitindo o controle apenas nas áreas realmente afetadas.
Para o consultor da Comdeagro, Sérgio Dutra, a inovação representa “um avanço importante para a agricultura de precisão, com menos defensivos e maior rentabilidade para o produtor”.

Parcerias e prova de conceito

O LumiBot é apoiado pela Embrapii Itech-Agro, que busca desenvolver o protótipo e reduzir custos na cadeia da soja e do algodão.
O projeto físico foi elaborado com a empresa Equitron Automação (SP) e conta com uma equipe multidisciplinar de engenheiros, biólogos e físicos da Embrapa e instituições parceiras.

A pesquisa já confirmou a eficácia da técnica para detectar espécies de nematoides como Aphelenchoides besseyi e Rotylenchulus reniformis, comuns em regiões tropicais e subtropicais, e responsáveis por perdas expressivas na produtividade.