Plano Safra 2025/2026: O que é, como funciona e por que é fundamental para o agronegócio brasileiro

Criado para financiar a produção rural, o Plano Safra é a principal política pública de crédito agrícola no Brasil. Em 2025, atingiu um valor recorde de R$ 400,5 bilhões

AGRO EM FOCO

8/6/20255 min read

O Plano Safra é um dos pilares da política agrícola brasileira. Lançado anualmente pelo governo federal, ele disponibiliza crédito rural com condições especiais para produtores e cooperativas financiarem suas atividades de custeio, investimento, comercialização e inovação.

Na edição 2025/2026, o plano atingiu um valor histórico de R$ 400,5 bilhões, reforçando seu papel como ferramenta essencial para garantir a segurança alimentar, a competitividade das exportações e o desenvolvimento sustentável da agropecuária nacional.

Mas de onde surgiu esse programa, como ele evoluiu e o que representa para os produtores rurais?

Histórico: Como Surgiu o Plano Safra?

O crédito rural no Brasil existe desde a década de 1960, mas o Plano Safra, como política estruturada, surgiu oficialmente em 2003, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, o foco era exclusivamente a agricultura familiar, com a criação de uma política específica para o setor: o Plano Safra da Agricultura Familiar, dentro do programa PRONAF.

Com o passar dos anos, o governo passou a anunciar, paralelamente, o Plano Safra da Agricultura Empresarial, voltado a médios e grandes produtores. Desde então, o programa se tornou a principal política de fomento do setor agropecuário brasileiro, com anúncios anuais de valores, taxas de juros e prioridades de investimento.

Como Funciona o Plano Safra

O plano reúne recursos de diferentes fontes — como BNDES, bancos privados, fundos constitucionais, cooperativas de crédito e Tesouro Nacional — para disponibilizar financiamentos rurais subsidiados.

Os recursos podem ser usados para:

  • Custeio da produção agrícola e pecuária

  • Investimento em infraestrutura e maquinário

  • Comercialização e armazenamento da produção

  • Inovação tecnológica e práticas sustentáveis

  • Subvenção ao seguro rural

A cada edição, o governo define as taxas de juros, as prioridades (como agricultura de baixo carbono, mulheres e jovens no campo) e os limites de financiamento.

Quem Pode Acessar os Recursos

O Plano Safra é acessível a diferentes perfis de produtores:

  • Agricultura Familiar: através do PRONAF, com taxas mais baixas (a partir de 3% ao ano) e condições simplificadas. É necessário ter a CAF (antiga DAP) ativa.

  • Médios Produtores: por meio do Pronamp, com taxas moderadas e maior volume de crédito disponível.

  • Grandes Produtores e Cooperativas: acesso ao crédito com taxas variáveis e maiores exigências técnicas.

Também podem acessar recursos:

  • Agroindústrias

  • Associações e cooperativas

  • Prestadores de serviços agropecuários

Importância para o Agronegócio

O Plano Safra é a engrenagem que movimenta boa parte da produção agropecuária brasileira. Sem ele, muitos produtores — principalmente os pequenos e médios — não teriam acesso ao crédito necessário para custear insumos, preparar o solo, contratar mão de obra ou investir em maquinário. Em um setor que depende fortemente do financiamento para antecipar a produção antes da colheita, esse suporte é essencial.

Além do custeio direto, o Plano Safra também é uma alavanca para o desenvolvimento tecnológico, pois incentiva o uso de sementes mais produtivas, fertilizantes de melhor qualidade, máquinas modernas e sistemas de irrigação mais eficientes. Com linhas específicas voltadas à inovação e sustentabilidade, o programa contribui para aumentar a produtividade e reduzir os impactos ambientais, promovendo a transição para uma agricultura de baixo carbono.

Outro ponto crucial é o papel do plano na estabilização da economia rural. Em anos de crises climáticas, flutuações cambiais ou baixa nos preços internacionais, o crédito do Plano Safra oferece um colchão de segurança que mantém a atividade econômica no campo. Isso evita demissões em massa, desabastecimento e prejuízos em cadeia em municípios onde o agronegócio é a principal fonte de renda.

Por fim, o programa tem forte influência sobre o comércio exterior. Com mais de 25% do PIB agrícola vindo das exportações, o crédito agrícola permite que o Brasil mantenha um nível elevado de competitividade global, especialmente em commodities como soja, milho, café, carne e algodão. Sem esse suporte, o país teria mais dificuldade para disputar mercados internacionais com países que também subsidiam sua produção, como Estados Unidos e União Europeia.

Evolução dos Valores Disponibilizados

O montante liberado pelo Plano Safra cresceu de forma significativa nas últimas décadas. Veja a evolução recente:

Fonte: MAPA / Governo Federal

Além disso, foram disponibilizados R$ 13 bilhões para subvenção ao seguro rural, um dos maiores valores já liberados.

Desafios e Críticas

Apesar de sua relevância, o Plano Safra ainda enfrenta uma série de obstáculos estruturais e críticas recorrentes. Um dos principais é a burocracia no acesso aos recursos. Muitos produtores — especialmente da agricultura familiar e de regiões mais isoladas — ainda encontram dificuldades para cumprir exigências documentais, apresentar garantias e acessar instituições financeiras habilitadas. A complexidade do processo faz com que, mesmo com recursos disponíveis, parte dos agricultores fique de fora.

Outro ponto de atenção é a concentração regional do crédito. A maior fatia dos financiamentos acaba direcionada para o Sul, Sudeste e Centro-Oeste — regiões com maior organização cooperativa e estrutura bancária. Isso gera um desequilíbrio com o Norte e Nordeste, que, embora tenham grande potencial produtivo, ficam à margem dos recursos do plano. Essa desigualdade agrava a concentração fundiária e dificulta a inclusão produtiva de agricultores em regiões menos favorecidas.

A defasagem dos valores liberados para certos programas, frente ao aumento real dos custos de produção, também é uma crítica recorrente. Mesmo com recordes nominais, o volume de crédito disponível muitas vezes não acompanha a inflação dos insumos agrícolas, o que reduz o poder de investimento do produtor. Além disso, as taxas de juros, mesmo subsidiadas, estão em patamares considerados altos por muitos agricultores, especialmente em comparação com linhas de crédito oferecidas por países concorrentes.

Por fim, há também questionamentos quanto à efetividade dos critérios de sustentabilidade. Embora o Plano Safra inclua linhas como o Programa ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), muitos especialistas apontam que faltam mecanismos mais robustos de verificação e condicionamento ambiental dos financiamentos. Isso gera risco de uso inadequado dos recursos em práticas que não necessariamente contribuem com os compromissos de mitigação climática assumidos pelo Brasil.

Perspectivas para o Futuro

A tendência é que o Plano Safra se torne cada vez mais alinhado com práticas sustentáveis. O Programa ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), por exemplo, tem sido reforçado com linhas específicas.

A digitalização também deve facilitar o acesso, com uso de dados satelitais, plataformas digitais e sistemas de certificação. E o mercado de créditos de carbono começa a ganhar espaço como alternativa complementar de financiamento.

O Plano Safra é mais do que um pacote de crédito: é um instrumento estratégico para garantir o funcionamento e a evolução do agronegócio brasileiro. Com valores recordes, foco em sustentabilidade e ampliação de acesso, ele continuará sendo fundamental para manter o Brasil como potência agroalimentar global — desde que seus recursos sejam utilizados com responsabilidade, equidade e transparência.