Pecuária brasileira amplia liderança climática e pode reduzir até 92,6% das emissões até 2050

Estudo da FGV e ABIEC mostra que a pecuária de corte do Brasil vive uma trajetória sólida de descarbonização e pode alcançar reduções históricas nas emissões de CO₂ por quilo de carne produzida

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white cow on brown field during daytime
white cow on brown field during daytime

A pecuária de corte brasileira, já líder mundial em exportações de carne bovina, avança para consolidar um protagonismo ainda maior na transição climática global. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com a ABIEC, aponta que o setor pode reduzir em pelo menos 79,9% suas emissões de CO₂ equivalente por quilo de carne até 2050, mantendo o ritmo atual de aumento de produtividade e uso mais eficiente da terra. Caso metas públicas e tecnologias avançadas sejam plenamente implementadas — como o desmatamento zero até 2030, a recuperação de pastagens e a adoção de práticas de pecuária regenerativa — a redução pode chegar a 92,6%.

Segundo Roberto Perosa, presidente da ABIEC, esses números reforçam o papel central da pecuária brasileira na agenda climática. Ele destaca que o setor já percorre um caminho de modernização contínua e que sua contribuição para as metas do Acordo de Paris é motivo de orgulho, mas também de responsabilidade.

O estudo baseia-se em quatro cenários futuros, todos considerando diferentes níveis de políticas públicas, tecnologias e boas práticas. No cenário mais conservador, que apenas projeta a continuidade do que já vem sendo feito, a pecuária brasileira deve reduzir suas emissões de 80 kg para 16,1 kg de CO₂ por quilo de carne — resultado direto de ganhos expressivos de eficiência. Desde 1990, por exemplo, a produtividade aumentou 183%, enquanto a área total de pastagens diminuiu 18%, segundo a ABIEC.

Já os cenários mais ambiciosos — que incluem desmatamento zero, adoção ampla do Plano ABC+, recuperação de pastagens e uso de tecnologias como aditivos alimentares e abate precoce — projetam reduções entre 91,6% e 92,6% nas emissões por quilo produzido. Se considerado o balanço líquido de emissões, o potencial varia de 60,7% a 85,4%, dependendo da combinação das estratégias adotadas.

A metodologia utilizada pelo estudo também traz inovações importantes. Por meio de geoanálises e modelagem econômica global, a FGV faz um mapeamento pixel a pixel do uso da terra, permitindo atribuir emissões com precisão e simular impactos futuros com alta confiabilidade.

A importância das políticas públicas para acelerar a transição climática

Para que o cenário mais otimista se concretize, políticas públicas são fundamentais. O estudo destaca que atingir a meta de desmatamento zero até 2030 é um passo decisivo e que sua implementação depende tanto do Estado quanto do setor produtivo. A ABIEC apoia ferramentas como o PNIB, o AgroBrasil+Sustentável e iniciativas estaduais de rastreabilidade — além de aplicar protocolos socioambientais como o Boi na Linha, voltado à compra responsável de gado.

Outro pilar é o fortalecimento dos incentivos econômicos. A ampliação das práticas previstas no Plano ABC+ e a adoção de tecnologias de mitigação exigem investimentos que precisam ser viáveis para o produtor rural. Por isso, políticas de crédito, inovação e assistência técnica são apontadas como essenciais para transformar o potencial de descarbonização em resultados concretos.

Especialistas da FGV enfatizam que a pecuária tropical brasileira já apresenta características regenerativas e inovadoras, mas que o salto necessário para atingir reduções acima de 90% depende justamente dessa combinação entre regulação firme e incentivos estruturados.

Fernando Sampaio, diretor de sustentabilidade da ABIEC, reforça que os avanços do setor não são projeções abstratas: refletem décadas de investimentos em genética, manejo, nutrição e monitoramento ambiental. Para ele, o estudo evidencia que o Brasil está preparado para consolidar-se como a principal origem global de carne bovina sustentável.