Ovelha do futuro: Embrapa desenvolve ovinos mais produtivos e sustentáveis

Pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul (RS) estão desenvolvendo a chamada “ovelha do futuro” — resultado de um projeto de melhoramento genético que reúne quatro características desejáveis para a ovinocultura de corte: maior prolificidade, melhor rendimento de carcaça, perda natural de lã e resistência à verminose

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10/16/2025

herd of sheep on green grass field during daytime
herd of sheep on green grass field during daytime

O projeto “ovelha do futuro” é conduzido pela Embrapa Pecuária Sul, em Bagé (RS), e busca oferecer aos produtores ovinos de corte mais eficientes, produtivos e rentáveis. Segundo o pesquisador José Carlos Ferrugem, a seleção assistida pode duplicar a eficácia produtiva da atividade, melhorando a relação entre receita e despesa, além de reduzir emissões de gases de efeito estufa e o número de animais improdutivos.

As pesquisas envolvem genes já identificados para prolificidade e rendimento de carcaça, enquanto as características de perda natural de lã e resistência à verminose são observadas diretamente nos animais do rebanho experimental.

Atualmente, o projeto está em fase de validação com produtores parceiros, que recebem carneiros melhorados por comodato e acompanham o desempenho de suas crias. Serão avaliados cerca de 1.000 animais nascidos desses cruzamentos, com registro detalhado de peso, data de nascimento, resistência a parasitas e cobertura de lã.

Maior prolificidade e rentabilidade

A prolificidade, ou capacidade de gerar mais cordeiros por parto, é uma das principais frentes do projeto. A Embrapa trabalha com essa característica há mais de duas décadas, desde a introdução do gene Booroola, proveniente da raça Merino Australiano. Esse gene já foi disseminado em rebanhos comerciais do Sul do Brasil e agora se soma a outras mutações identificadas pela instituição: o gene Embrapa, presente na raça Santa Inês, e o Vacaria, encontrado em ovinos Ile de France.

Essas variações genéticas permitem aumentar o número de cordeiros comercializados sem ampliar o tamanho do rebanho, elevando a rentabilidade do produtor e tornando a produção mais eficiente.

Ganhos no peso e no rendimento das carcaças

Outro destaque do projeto é o gene Bombacha, identificado em ovinos da raça Texel. Ele está associado à melhor conformação e rendimento de carcaça, especialmente na parte traseira, valorizando cortes como o pernil.
Com esse gene, os pesquisadores estimam um aumento médio de 9% no peso das carcaças (de 17 kg para 18,5 kg) e 5% no rendimento médio (de 40% para 42%).
Esses ganhos significam mais carne e mais receita por animal, consolidando o avanço genético como um fator econômico relevante para a ovinocultura de corte.

Perda natural de lã reduz custos de produção

Com a queda nos preços da lã e o alto custo da tosquia, a perda espontânea de lã tornou-se uma característica desejável.
Segundo o pesquisador João Carlos de Oliveira, a tosquia custa, em média, R$ 12 por ovelha ao ano, valor que muitas vezes supera o preço pago pela lã. A introdução de animais que perdem a lã naturalmente pode reduzir em até 50% o número de tosquias anuais, aliviando custos e diminuindo a dependência de mão de obra escassa.

Essa característica foi obtida por meio de cruzamentos entre raças lanadas e deslanadas, como Santa Inês, e ainda está sendo estudada para compreender melhor sua base genética. O projeto inclui também a criação de um banco de DNA para futuros estudos de associação genômica.

Resistência à verminose e sustentabilidade

A resistência a verminoses é outro pilar da “ovelha do futuro”. Essas doenças comprometem o ganho de peso, causam mortes e aumentam os gastos com medicamentos.
A Embrapa está selecionando animais naturalmente mais resistentes, com base em exames de OPG (Ovos de Parasitos por Grama) realizados em diferentes fases da vida. As fêmeas mais suscetíveis são descartadas, permitindo que apenas os exemplares mais resistentes se reproduzam.

De acordo com a pesquisadora Magda Benavides, o objetivo é reduzir em até 50% o uso de vermífugos, o que representa menos custos, menor impacto ambiental e melhor bem-estar animal.
Além disso, a redução do número de animais infectados diminui a contaminação das pastagens e retarda o surgimento de resistência dos parasitas aos medicamentos.

Um modelo personalizado de inovação

Um dos diferenciais do projeto é permitir que cada produtor desenvolva sua própria “ovelha do futuro”, de acordo com as necessidades e características do seu sistema de produção.
Se um criador já trabalha com raças naturalmente deslanadas, por exemplo, pode priorizar apenas os genes ligados à prolificidade ou resistência a verminoses. Essa flexibilidade torna o modelo adaptável e economicamente viável para diferentes realidades da ovinocultura brasileira.

Eficiência, sustentabilidade e futuro

O projeto “ovelha do futuro” da Embrapa Pecuária Sul é um exemplo de como a ciência aplicada pode aumentar a produtividade, reduzir custos e promover sustentabilidade.
Com foco em genética, manejo e parceria com produtores, a iniciativa aponta para uma ovinocultura de corte mais moderna, competitiva e ambientalmente responsável.