Embrapa testa plantas nativas para recuperar barragens de mineração de ouro

Pesquisadores da Embrapa Cerrados estão testando o uso de espécies nativas do bioma Cerrado para a recuperação ambiental de áreas degradadas por barragens de mineração de ouro. O objetivo é avaliar quais plantas têm maior capacidade de adaptação a solos contaminados e de baixa fertilidade, comuns em áreas mineradas

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10/14/2025

mountain range with terraces
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A convivência harmoniosa entre o desenvolvimento econômico, como a mineração, e a sustentabilidade ambiental é um dos maiores desafios do século. No coração do Brasil, o bioma Cerrado tem sido palco de intensas atividades econômicas, e a necessidade de recuperar áreas degradadas, como as barragens de rejeito mineral, nunca foi tão crítica. Trazemos uma excelente notícia da fronteira da pesquisa: a Embrapa Cerrados (DF) está liderando um projeto inovador, em parceria com a mineradora Kinross Gold Corporation em Paracatu (MG), para desenvolver um protocolo sustentável de revegetação focado em espécies nativas e adaptadas ao bioma.

A recuperação dessas áreas representa um desafio complexo de engenharia e biologia, pois as barragens de rejeito de mineração de ouro são ambientes extremamente hostis à vida vegetal. O diagnóstico inicial feito pela Embrapa na mina Morro do Ouro revelou condições críticas, como solos ácidos e compactados, com baixa fertilidade e matéria orgânica, além da presença de metais tóxicos. Essas características inibem drasticamente o crescimento e o desenvolvimento de plantas. Diante disso, a pesquisadora Leide Andrade, líder do projeto, enfatiza que a escolha das espécies é decisiva, pois não se pode simplesmente "importar" soluções: "A tecnologia precisa nascer aqui, no campo, com nossos solos, nosso clima e nossas espécies."

Critérios de seleção e monitoramento

Com isso em mente, o projeto aposta em espécies nativas do Cerrado. A pesquisa concentra-se em espécies que, além de adaptadas ao bioma, atendem a rigorosas exigências legais de segurança de barragens, buscando uma cobertura vegetal eficiente sem comprometer a estrutura. Especificamente, as plantas não podem desenvolver raízes profundas (para evitar rachaduras nos taludes) nem ter parte aérea muito desenvolvida (para permitir o monitoramento visual constante).

Além disso, a escolha das espécies baseou-se na capacidade de estabelecimento em solos pobres e compactados, enfrentando condições típicas dessas áreas, como baixa fertilidade, pouca matéria orgânica e baixa atividade microbiológica. O monitoramento do experimento acompanha indicadores simples e objetivos: taxa de sobrevivência das plantas, crescimento em altura e diâmetro e a resposta inicial do solo (por exemplo, sinais de recuperação da estrutura e do potencial produtivo). Esses dados servem para identificar as espécies mais promissoras e construir um protocolo de revegetação que possa ser replicado em outras áreas degradadas por mineração.

Espécies como o estilosantes, a Braquiária humidicola e a Grama pensacola estão apresentando resultados promissores, pois seu desempenho não compromete a estabilidade ou a observação do solo. A Mimosa somnians, nativa do Cerrado, também está em fase de testes.

O desafio do mercado de sementes

Embora as espécies promissoras já mostrem excelente adaptação, o projeto enfrenta uma barreira logística e de mercado: a escassez de sementes das espécies nativas ou adaptadas no mercado comercial. Isso ressalta a importância de investimentos contínuos em pesquisa e em uma bioeconomia que valorize e comercialize os recursos genéticos do Cerrado. Os resultados preliminares já permitiram o ajuste fino do protocolo de plantio, mas o objetivo final é ambicioso: criar um protocolo definitivo, sustentável e replicável que possa ser adotado em outras áreas de mineração pelo País, transformando áreas degradadas em ambientes mais resilientes e de volta à natureza.

O protocolo de revegetação replicável

Os resultados obtidos com os testes em campo, embora preliminares, já permitiram que os pesquisadores realizassem ajustes no protocolo de plantio e no desenho experimental. Essa otimização é crucial para criar um modelo aplicável em larga escala. O objetivo final do projeto é gerar um protocolo técnico definitivo, sustentável e replicável, que possa ser adotado em outras áreas de mineração no Brasil. Isso garante que a expertise desenvolvida no Cerrado mineiro possa contribuir para a recuperação de diversos territórios transformados pela atividade.

Fonte: Pesquisa testa plantas nativas do Cerrado para recuperar barragens de mineração de ouro - Portal Embrapa