El Niño, La Niña e a agricultura brasileira: entenda os efeitos climáticos nas lavouras
Fenômenos climáticos como El Niño e La Niña afetam diretamente a produção agrícola no Brasil, influenciando chuvas, temperaturas e produtividade em várias regiões do país
AGRO EM FOCO
7/23/20253 min read


El Niño e La Niña são fenômenos naturais com forte impacto sobre o clima global, especialmente em países tropicais como o Brasil. Com o aumento da frequência e intensidade desses eventos nos últimos anos, entender como eles funcionam e afetam o setor agropecuário é essencial para o planejamento de safras, mitigação de perdas e adoção de estratégias de adaptação climática. Em um país com forte dependência da agropecuária para sua economia, os efeitos desses eventos são sentidos do campo ao mercado internacional.
Funcionamento do El Niño e La Niña
Ambos os fenômenos fazem parte do ciclo ENSO (El Niño–Southern Oscillation), que representa variações anormais na temperatura da superfície do Oceano Pacífico Equatorial e na circulação atmosférica.
El Niño: caracteriza-se pelo aquecimento anormal das águas do Pacífico central e oriental. Esse aquecimento altera os padrões de circulação atmosférica, afetando o regime de chuvas em diferentes partes do mundo. No Brasil, o El Niño costuma provocar aumento de chuvas no Sul e secas prolongadas no Norte e Nordeste. O evento mais recente, iniciado em meados de 2023, foi classificado como moderado a forte, e influenciou negativamente a safra de grãos no Centro-Oeste, com estiagem prolongada em estados como Mato Grosso e Goiás.
La Niña: ocorre com o resfriamento das águas do Pacífico equatorial, intensificando os ventos alísios e alterando os padrões de precipitação. A La Niña geralmente traz chuvas acima da média para o Norte e Nordeste, e seca para o Sul. A última ocorrência de La Niña durou três anos (2020 a 2022), causando perdas significativas para a soja e o milho no Rio Grande do Sul.
Segundo a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica dos EUA), as condições neutras retornaram no inverno de 2024, mas há previsão de um novo episódio de La Niña no segundo semestre de 2025, o que exige atenção redobrada do setor agrícola.
Impactos na Agricultura por Região
Os efeitos do El Niño e La Niña variam conforme a região do Brasil:
Sul: durante o El Niño, o excesso de chuvas pode afetar negativamente a colheita e a sanidade de culturas como soja, milho e trigo, além de prejudicar o plantio pela saturação do solo. Já a La Niña costuma trazer estiagens severas, como as que impactaram drasticamente a produção de grãos no RS nos últimos anos.
Sudeste e Centro-Oeste: o El Niño tende a reduzir as chuvas, atrasando o plantio da soja e comprometendo o milho safrinha. Em 2023/24, a combinação entre El Niño e altas temperaturas reduziu a produtividade do milho em mais de 20% em algumas áreas do Mato Grosso.
Nordeste: a La Niña favorece a ocorrência de chuvas mais regulares, beneficiando culturas como feijão, milho e mandioca. Por outro lado, o El Niño agrava a estiagem, dificultando a produção agrícola e aumentando os custos com irrigação e insumos.
Norte: o El Niño reduz a umidade e aumenta os riscos de queimadas e incêndios florestais, o que também pode impactar negativamente sistemas agroflorestais e extrativistas. A La Niña tende a aumentar as chuvas, favorecendo a produção em sistemas integrados.
Estratégias de Adaptação e Mitigação
Diante dos impactos climáticos recorrentes, produtores e gestores públicos têm adotado medidas para reduzir os riscos associados ao ENSO:
Zoneamento agrícola de risco climático (ZARC): ferramenta que orienta o melhor período de plantio para reduzir perdas com eventos extremos.
Uso de cultivares adaptadas: variedades mais resistentes à seca ou à umidade são recomendadas para cada região.
Sistemas integrados de produção: como ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), que melhoram a resiliência do solo e da propriedade.
Seguro rural: vem crescendo como ferramenta de proteção contra perdas climáticas. Em 2024, mais de R$ 1 bilhão foi destinado pelo governo federal para subsidiar apólices.
Monitoramento climático: o uso de plataformas digitais e de sensoriamento remoto ajuda na tomada de decisão mais rápida e precisa no campo.
El Niño e La Niña continuarão moldando a paisagem agrícola brasileira nas próximas décadas. O conhecimento técnico sobre os efeitos regionais desses fenômenos é crucial para antecipar riscos e planejar safras com mais segurança. Investir em práticas adaptativas, tecnologias resilientes e gestão de risco climático é fundamental para garantir a sustentabilidade da agricultura em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais intensas e imprevisíveis.
Agro em Foco
CONTATO
Dicas
contato@agroemfoco.com
+55 19 99786-6098
© 2025. All rights reserved.