Calor pode inviabilizar cultivo de alface em campo aberto no Brasil até o fim do século
Estudo da Embrapa mostra que as mudanças climáticas podem inviabilizar o cultivo de alface em campo aberto no Brasil até 2100. Entenda os cenários climáticos projetados, os impactos esperados e as alternativas para produtores
NOTÍCIAS
9/27/2025
A alface é a hortaliça folhosa mais consumida no Brasil, mas enfrenta um futuro incerto diante das mudanças climáticas. Pesquisadores da Embrapa Hortaliças avaliaram como o aumento das temperaturas pode impactar o cultivo em campo aberto até o final do século. Os resultados são preocupantes: em alguns cenários, o calor pode tornar inviável a produção da hortaliça em grande parte do território nacional.
Ameaça climática para a cultura da alface
Projeções climáticas apontam que, até o fim do século, o cultivo de alface em campo aberto poderá se tornar inviável em diversas regiões do Brasil. Essa previsão é baseada em dois cenários de mudanças climáticas elaborados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC): o RCP 4.5 e o RCP 8.5.
O cenário otimista adotado foi o RCP 4.5, com aumento de temperatura global entre 2°C e 3°C até 2100. Já o cenário pessimista foi o RCP 8.5, com elevação de até 4,3°C e emissões de gases de efeito estufa em crescimento contínuo.
Nos dois cenários, o calor excessivo pode inviabilizar a produção de alface em campo aberto em grande parte do território nacional, forçando agricultores a buscar alternativas como cultivos protegidos em estufas ou o uso de cultivares mais tolerantes ao calor.
Os dados mais alarmantes se encontram nas projeções para o verão no final do século, entre os anos de 2071 e 2100. No cenário RCP 4.5, mais otimista, praticamente 80% do território nacional apresenta alto risco climático para a alface em campo aberto e 17,4% apresenta risco muito alto. Já no cenário pessimista (RCP 8.5), quase 88% do território apresenta risco climático muito alto e 11,8% com risco climático alto, deixando praticamente todo o território nacional com alto risco climático para a cultura.
Efeitos do calor e desordens fisiológicas
O calor excessivo pode provocar desordens fisiológicas na alface, como o pendoamento precoce e a queima de bordos, que reduzem a qualidade comercial do produto. Esses efeitos são especialmente preocupantes em cultivares tradicionais, menos adaptadas às altas temperaturas. Já a cultivar BRS Mediterrânea, lançada pela Embrapa, apresenta tolerância maior ao calor, mantendo boa qualidade mesmo em condições adversas. Essa característica a torna uma alternativa estratégica para os produtores diante do cenário de mudanças climáticas.
Estratégias de adaptação necessárias
Para enfrentar os impactos do aumento das temperaturas no cultivo de alface, especialistas apontam que será essencial adotar estratégias de adaptação no campo. Entre as principais alternativas estão o uso de cultivares mais resistentes ao calor, como a BRS Mediterrânea, desenvolvida pela Embrapa, e a migração para sistemas de cultivo protegido, como estufas e casas de vegetação. Essas técnicas ajudam a controlar o microclima e reduzir os efeitos negativos das ondas de calor. Além disso, a adoção de práticas de manejo sustentável, como irrigação eficiente, sombreamento artificial e rotação de culturas, pode contribuir para manter a produtividade em um cenário de mudanças climáticas. A combinação dessas soluções é vista como um caminho viável para garantir que a produção de alface no Brasil continue atendendo à demanda crescente por alimentos frescos e saudáveis, mesmo diante dos desafios impostos pelo aquecimento global.
Um futuro desafiador para a alface
O estudo da Embrapa deixa claro que o futuro do cultivo de alface em campo aberto no Brasil dependerá diretamente das estratégias de adaptação adotadas pelos agricultores. Se nada for feito, as mudanças climáticas podem comprometer a produção e a oferta dessa hortaliça essencial para a dieta do brasileiro. No entanto, com o uso de cultivares resistentes, tecnologias de cultivo protegido e práticas de manejo sustentável, ainda é possível manter a viabilidade da cultura. O desafio está lançado: garantir a produção de alface em um país cada vez mais quente.
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