Cafeicultura das Matas de Rondônia une alta produtividade, sustentabilidade e inclusão social

Estudo da Embrapa mostra que o café Robusta Amazônico combina alta produtividade, rentabilidade e conservação ambiental nas Matas de Rondônia, onde pequenos produtores familiares lideram uma agricultura sustentável e tecnificada

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a person holding a bunch of berries
a person holding a bunch of berries

A cafeicultura das Matas de Rondônia vive um momento de destaque nacional, combinando alta produtividade, sustentabilidade ambiental e forte impacto social. Um estudo da Embrapa Rondônia, realizado em parceria com o Sebrae-RO e a Embrapa Territorial (SP), revelou que a região, responsável por 75% da produção estadual de café robusta, consolidou-se como referência em eficiência produtiva e conservação ambiental.

O levantamento, que abrangeu 15 municípios, mostra que o café produzido na região é cultivado majoritariamente em pequenas propriedades familiares, com tecnificação crescente, rentabilidade elevada e boa gestão dos recursos naturais.

Produtividade e rentabilidade em alta

Nos últimos 20 anos, a área de cafezais em Rondônia caiu de 245 mil hectares para 60,6 mil hectares, mas a produtividade saltou de 7,8 para 50,2 sacas por hectare. Esse fenômeno, conhecido como “efeito poupa-terra”, reflete ganhos de eficiência e adoção tecnológica.

A rentabilidade do Robusta Amazônico também é um ponto de destaque: o custo médio de produção é de R$ 618,00 por saca de 60 kg, vendida por cerca de R$ 1.300,00, o que garante boa margem de lucro e fortalece a permanência dos jovens no campo — a idade média dos produtores caiu de 53 para 47 anos em 15 anos.

Tecnologia e conectividade impulsionam o campo

O estudo identificou mais de 200 máquinas colhedoras em uso na região e até empresas de aluguel de colhedoras semi-mecanizadas, mostrando a expansão da mecanização. Práticas como fertirrigação, adubação equilibrada e podas planejadas refletem o bom nível de tecnificação dos cafezais.

Outro salto significativo foi o avanço da conectividade rural: em 2017, apenas 9,2% das propriedades tinham internet; hoje, 97,7% dos cafeicultores estão conectados, utilizando a rede para compras, comunicação e comercialização.

Desafios e gargalos

Apesar dos avanços, ainda há desafios a superar, como a escassez de mão de obra sazonal para a colheita e a necessidade de máquinas específicas para o Robusta Amazônico, cuja estrutura de planta difere da espécie arábica.

Além disso, 61% dos produtores ainda não realizam controle financeiro formal, o que limita a gestão das propriedades. O estudo aponta a importância de ampliar o uso de planilhas e ferramentas digitais para melhorar o planejamento econômico.

Café em harmonia com a floresta

A sustentabilidade ambiental é outro diferencial marcante. A Embrapa comprovou que os cafezais das Matas de Rondônia sequestram 2,3 vezes mais carbono do que emitem, contribuindo para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Entre 2020 e 2023, sete dos 15 municípios da região registraram desmatamento zero, e em toda a área estudada, menos de 1% apresentou novas retiradas de floresta. No total, 56% do território das Matas de Rondônia — o equivalente a 2,2 milhões de hectares — permanecem cobertos por vegetação nativa, grande parte em terras indígenas.

Café que preserva e desenvolve

Para o pesquisador Enrique Alves, a cafeicultura rondoniense representa um modelo de equilíbrio entre produção, inclusão social e conservação ambiental.

“Esse café está se consolidando como um produto de alta qualidade, que promove o desenvolvimento social em pequenas propriedades e comunidades tradicionais e ainda ajuda a manter a floresta Amazônica”, destaca o pesquisador.

Com apenas 0,8% da área das Matas de Rondônia ocupada por cafezais, a região responde por 75% da produção estadual e se afirma como símbolo de agricultura sustentável e inovadora na Amazônia.